Pés descalços

sábado, setembro 19, 2015 0 Comentários A+ a-

 

Caminho descalça pela calçada. Carrego os saltos na minha mão e lágrimas no meu rosto. Sujo meus pés com a poeira da estrada, mas não posso voltar para casa. Então eu ando.

Meu peito dói, meu coração dói. Sinto medo do abandono, e da solidão. Uma solidão de quem perdeu a si mesma durante a tempestade. Uma solidão de quem não tem abrigo.

Sinto que todos os sonhos que sonhei se foram. Tudo que eu imaginei se foi. Meu coração está partido e eu sinto culpa, ódio, nojo, dor. Se pudesse, voltaria no tempo. Mudaria todas as palavras proferidas, choraria em silêncio.

Chego a tal ponto de querer arrancar minha pele, de esfolar meus ossos. A culpa que me consome não me deixa dormir, e eu ainda estou me perguntando o que eu fiz de errado, o que eu fiz de certo. Porque quando eu ouvi aquela piada engraçada hoje, eu pensei que você adoraria ouvi-la, e chorei. Chorei porque eu não vou contá-la e você não vai me ouvir. Não riremos juntos como antes, não seremos mais como antes. E a culpa é sua, é minha. A culpa é de alguma coisa que eu não sei o que é, mas que está me magoando muito. E eu estou com medo.

Medo de não saber o que fazer, o que dizer. Medo de fazer alguma coisa errada outra vez, de perder o que eu não posso perder.

Sinto-me tão suja quanto meus pés desnudos caminhando pela calçada. Por isso eu choro feito criança. Por isso eu escrevo sem conseguir enxergar as teclas no escuro. Escrevo para salvar o que restou de mim, mas não sei se conseguirei juntar todos os meus pedaços. Abraço meu corpo, tão frio e inerte, e choro e choro e choro.

Um choro alto, engasgado, que faz meu corpo se curvar de tanta dor. E as pessoas me olham na rua, devem achar-me louca. Um rapaz para ao meu lado e, com piedade nos olhos, diz que mulheres bonitas não deviam chorar desse jeito. Como não digo nada, ele parte. Parte como meus sentidos, que já se anestesiaram. Parte como tantos já partiram. Como eu queria partir também.

E eu fico ali, sozinha, com a maquiagem borrada e os cabelos desgrenhados. Fico porque não posso voltar pra casa, porque não tenho para onde ir. O único lugar que eu iria é a causa da minha dor.


Então eu faço a única coisa que consigo. Eu mergulho em mim mesma mais uma vez.

E não sei mais se serei capaz de voltar.

Textos, frases, crônicas, drama e uma mistura de coisas que só quem sente pode entender. O blog é uma mistura de tudo aquilo que passa na minha confusão mental, um pouco de crítica, um pouco de jogos, um pouco de tudo pra quem pensa em tudo.