Consciente demais

domingo, fevereiro 21, 2016 0 Comentários A+ a-



Minhas mãos são tão frias quando toco de leve sua pele quente. De repente, nunca estive tão atenta a chuva que cai tão perto de nós. Ou ao cheiro de comida que permanece preso em nosso corpo e o vento frio que faz os pelos do meu braço se arrepiarem. Nunca estive tão consciente da proximidade, do inesperado, do desconhecido. Quase posso sentir o quanto temos tanto para falar, e tão pouco a dizer.

Tento não pensar nas coisas que me trouxeram até aqui, mas me sinto tão grata por elas. Mesmo as noites em claro, o medo e a dor de ser traída pelas pessoas que eu mais amei. Mesmo que minhas feridas ainda doam um pouco ou que o medo de não estar pronta para a felicidade ainda me faça vacilar vez ou outra. Não quero assustar ninguém.
Essa parte de mim que mais parece um trator que vai e volta em um ciclo sem fim assusta. Eu sei disso. Eu sei que minha inconstância, minha timidez com ares de ousada e minhas peripécias e comentários cheios de sentidos assustam. Uma parte de mim quer socar meu coração até que ele fique bem pequenininho e não assuste com o tamanho. Uma parte de mim quer voltar pra casa porque está com medo de estar só.
Mas uma parte de mim quer continuar sentindo o calor que vem da sua pele quente. Uma parte de mim quer esquecer da solidão e do frio que sempre se fez presente nesse imenso vazio que habita meu peito. Esquecer todos os ombros que cruzaram a porta, todos os adeus que nunca soube lidar. Uma parte de mim gosta de como seus olhos se parecem com os meus.
Eu ainda não sei quais são as cartas que estão viradas na mesa. Ainda não sei se sou capaz de lidar com a queda e o medo se eu perder ou ganhar. Afinal, sempre haverá aquela sombra de dor por onde eu tocar e isso não é culpa sua, nem de ninguém. É culpa da vida, das escolhas erradas que fiz. A culpa é das coisas que vi, mas que fizeram de mim essa tela sem forma, cheia de traços, cores e rabiscos sem exatidão. Maluca como uma obra de Picasso.
E eu fecho os olhos torcendo que ninguém veja meu corpo meio curvado das coisas que carrego nos ombros, no peito, na alma. Eu torço que você não me ache maluca, ainda que eu seja. Eu torço que chova, que faça frio e que o calor da sua pele ainda me faça sentir em casa.
E ainda me faça achar que o mundo pode ser imensamente melhor. Ainda que não seja.
- Cora.

Textos, frases, crônicas, drama e uma mistura de coisas que só quem sente pode entender. O blog é uma mistura de tudo aquilo que passa na minha confusão mental, um pouco de crítica, um pouco de jogos, um pouco de tudo pra quem pensa em tudo.