Outras mãos estão me tocando agora

segunda-feira, março 28, 2016 0 Comentários A+ a-

    
Não é engraçado? Um ano atrás eu estava depositando todas as minhas fichas nas suas promessas de amor eterno, de permanência, de fidelidade, de amor. Eu lhe entreguei partes de mim que eram de suma vitalidade para minha sobrevivência. Eu deixei que ficasse, tornei-me de alguém até o ponto de esquecer quem eu era e não me importei com a altura até me deparar com a queda. 
Mas você se foi como todos os outros. O inverno chegou e você partiu com ele, deixando migalhas, mentiras e dor por onde eu pisasse. Você me matou quando me deixou para trás, quando me fez implorar sua presença como um cachorro vira-lata. E eu te escrevia coisas lindas porque era tudo que eu tinha. Era minha essência, meu corpo, minha alma. E tudo que eu fui, que eu poderia ser, tudo isso eu te entreguei em total rendição e desespero. Mas você não se apaixonou pelas minhas raízes e quando o inverno chegou e minhas flores murcharam e morreram, você não soube o que fazer. 
Agora, depois de me perder e me encontrar tão longe de casa, depois de reconstruir meus pedaços e cicatrizar as feridas que você abriu em mim, eu percebo que a verdade, a verdade é que eu nunca te pertenci. O amor que eu te dei, a poesia, a música que sempre esteve em mim ainda que não soubesse, tudo isso nunca foi seu. 
     Mas eu te amei tanto, tanto, que para deixar de amá-lo eu precisei aprender a amar outras pessoas. Eu precisei ser outra e, sendo outra, eu deixei deixei de ser sua. Você sabia disso, sempre soube. Teimei em ir embora, bati o pé e implorei para que não me arrancasse da sua vida, ainda que eu fosse só um móvel de canto na sua sala. E mesmo teimando em falar que me amava tanto, tirou-me de vez da tua casa e eu, ainda que aos pratos e descalça, fui embora para nunca mais voltar.
Agora outra pessoa me abraça enquanto chove lá fora. Outra pessoa desenha com os dedos as linhas do meu corpo e, mesmo com medo e confusa, eu não quero ir embora. E ele, diferente de você, pede que eu fique. E eu não consigo não adorar em silêncio o riso discreto que ele abre sempre que me vê distante, como um menino que descobre o mar pela primeira vez. E das mãos que ainda desvendam meus segredos ou desses dedos que não me conhecem por inteiro, mas que tanto prometem coisas que eu não sei se sou digna de saber. 
De repente eu me sinto tão impura. Quase como se eu não merecesse essa nova chance que a vida me dá. 
Aos poucos sua presença me deixa. No lugar dela uma nova surge, tão diferente, tão cheia de mistérios que me faz querer escondê-lo do resto do mundo. Tão mais palpável, tão mais tranquila. Não é calmaria, embora eu goste de como ela soa. É paz, aquela paz que eu pensei que tivesse antes. Que eu pensei que entendesse, mas que nunca conheci. É a liberdade que desfruto pela primeira vez, longe de casa e dependente da fé e dos passos que nem sei se consigo dar sozinha, mas que dou todos os dias. 
É esse sorriso que ele tem que eu não sei explicar, como se fosse um sol que afasta de mim qualquer vestígio da sua presença e faz o mundo parecer um lugar digno de se estar. Que faz tudo isso valer a pena e me fazer sentir que encontrei meu lugar. Que pela primeira vez, eu estou em casa.
É a forma como ele me mostra quem eu sou, como ele enxerga quem eu posso ser sem criar sobre mim uma figura mística e impossível de ser alcançada, como você sempre fez. É o jeito como ele beija a minha testa quando temos que trilhar outros caminhos e nos afastar nesse lugar onde até o calor dos nossos dedos nos é proibido. É o sotaque arrastado com gostinho de beijo roubado nas noites frias, são as palavras que ele escreve naquele caderno de capa marrom que tem o cheiro dele. É a boca que sorri quando eu afasto meus lábios no meio de um beijo, só pra esperar ele me puxar de volta como um sedento diante de água. 
É sobre o quanto eu quero amá-lo desesperadamente, mas tenho medo de me perder outra vez. E ele sabe disso, ele sabe. Assim como eu sei que ele finalmente se dá uma chance para encontrar-se no meio dessa loucura. Que não esperamos nada um do outro, a não ser a presença e a confidência dos nossos lábios, das palavras que nos seguem nesses textos que escrevemos um pro outro com tanto afinco. Como dois personagens, não mais narradores distantes de uma história que não nos permite sentir. 
Dessa vez, porém, vivemos. E eu já estou esquecendo em qual capítulo eu e você nos encontramos e desencontramos. Porque, nesse instante, tudo que me importa é quando eu e ele reencontraremos o a presença um do outro e descobriremos novos horizontes. 
Horizontes infinitamente melhores. Infinitamente mais felizes, onde fiquemos pela primeira vez. Aonde eu possa voltar todos os dias e chamar de lar. 

Chamar de amor. 

Textos, frases, crônicas, drama e uma mistura de coisas que só quem sente pode entender. O blog é uma mistura de tudo aquilo que passa na minha confusão mental, um pouco de crítica, um pouco de jogos, um pouco de tudo pra quem pensa em tudo.