Porque, apesar de tudo, eu ainda odeio você

segunda-feira, março 14, 2016 0 Comentários A+ a-

  
 
    Eu gosto de ver como você parece tão solto olhando pra mim do outro lado dessa mesa. Sua cabeça está apoiada contra a parede e seus ombros estão relaxados, deixando você menos presencial. Por que é isso que você faz quando chega, você preenche o ambiente. Seus ombros que parecem uma muralha, mesmo que diga o contrário, esse calor que emana de você. Esse silêncio que fala tanto. 
É quase uma outra pessoa me olhando. Seu riso é quase infantil, bobo, distraído. E eu sinto essa sua necessidade de ser entendido tanto quanto a minha de querer entende-lo. De repente eu sinto seu fardo, eu sinto todo o peso que você carregou nas costas, um peso que não era seu, e tenho vontade de puxá-lo pra perto e dizer que vai ficar tudo bem, mesmo que você não precise mais ouvir isso. Admiro sua força, admiro seus traumas e suas feridas. Mas admiro mais ainda esse jeito que você olha pra mim do outro lado da mesa, tão perto e tão longe de mim. Estamos ambos nervosos, isso é óbvio. Não consigo entender aonde isso tudo vai levar, mas deixo que continue. Claro que deixo. Quem sou eu para ignorar essa sua presença? É impossível não ficar menor quando você chega. 
Eu sei que você não percebe, mas as pessoas te olham o tempo todo. Sua presença causa uma sensação de respeito, quase como se você tivesse um segredo que precisasse ser compartilhado, mas não pudesse ser pronunciado. E eu fico aqui, olhando você rir tão menino, tão despido do homem que conversei nos últimos três meses, que quase me acredito ser outro. Mas ainda é você. 
Dessa vez eu deixo que alguém segure minha mão. Quase esqueço que a última vez que alguém fez isso, foi para me mandar embora. Começos. Passos que eu dou sem saber o final. Mas que faço segura. Não sou mais uma menina boba, meu coração não é mais feito de vidro. Não espero mais o príncipe que vai me salvar em seu cavalo branco. Nunca mais. E é por isso que olho para você e não consigo não sorrir. Nem mesmo quando nossas opiniões divergem, nem mesmo quando eu estou tão apavorada que minhas mãos estão suando muito. 
E eu odeio você. Odeio essa confusão que você faz comigo. Odeio sua mão segurando a minha. Odeio meus dedos que apertam os teus. Odeio como eu deveria estar te dando um pé na bunda, mas estou rindo e ouvindo você me contar coisas que deixam você mais e mais perto. 
E depois tem aquela cena que você me puxou de lado e me beijou e eu fiquei frustrada porque queria que não tivesse acabado tão rápido. E eu quis te arrastar pela camiseta até esquecer que existem carros, buzinas, gente que enchem o saco e regras que regem nós dois.
Mas eu me comporto. Você se comporta. Porque apesar de tudo, eu e você sabemos que não é só isso. E é por isso que continuo te olhando quieta, pensando e perguntando onde isso vai levar. Mas sem questionar, porque não quero mais ter controle do que não deve ser controlado. E deixo você guiar nossos passos enquanto eu me pergunto quando vou me acostumar com você. 

E deixo que você me abrace como a muito tempo não abraçam mais. 

Textos, frases, crônicas, drama e uma mistura de coisas que só quem sente pode entender. O blog é uma mistura de tudo aquilo que passa na minha confusão mental, um pouco de crítica, um pouco de jogos, um pouco de tudo pra quem pensa em tudo.